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Hambúrguer de R$ 60: o que realmente promete mudar tudo

A imagem de um bife suculento saído de um laboratório ou de uma barra de proteína feita com farinha de grilo pode parecer coisa de filme de ficção científica. Mas essa chamada "comida do futuro" já é uma realidade em lugares como Singapura, Estados Unidos e partes da Europa. Motivadas pela busca por fontes de proteína mais sustentáveis, essas inovações estão a caminho do Brasil.

Agora, a pergunta que fica é: quão longe estamos de ver esses produtos nas prateleiras do supermercado? E quando eles chegarem, será que caberão no nosso orçamento? Para entender melhor, vamos explorar a regulamentação, as expectativas de mercado e o preço dessas novidades.

Carne cultivada: quando poderemos comprá-la no açougue brasileiro?

A carne de laboratório, ou carne cultivada, está mais próxima do que pensamos de se tornar realidade no Brasil. Recentemente, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançou a resolução RDC 839, criando um marco regulatório que abre espaço para a aprovação de “novos alimentos”. Com isso, a aprovação desse tipo de carne já é um tema em pauta.

Agora, é hora das empresas entrarem em cena. Companhias como a BRF já estão se unindo a startups internacionais que trabalham com tecnologia de cultivo celular. Se tudo correr bem, a expectativa é que os primeiros produtos de carne cultivada, provavelmente na forma de hambúrgueres, cheguem aos restaurantes e supermercados entre final de 2025 e meados de 2026.

Qual será o preço do primeiro bife cultivado?

Quando você pensar em carne cultivada, não espere que ela tenha o mesmo preço que a carne de frango. O custo associado ao desenvolvimento e à produção inicial em biorreatores é bastante elevado. Ao que tudo indica, os primeiros produtos devem chegar com um preço premium, voltado para aqueles consumidores curiosos, os chamados "early adopters".

Os preços internacionais indicam que um hambúrguer de carne cultivada pode custar entre R$ 50,00 e R$ 60,00 na sua estreia. A meta da indústria é, ao longo de 5 a 10 anos, conseguir reduzir esse custo e torná-lo equivalente ao da carne bovina tradicional.

Farinha de grilo em pães e massas: está longe de ser uma realidade?

A farinha de inseto, especialmente a de grilo, é mais uma promessa de proteína sustentável. No Brasil, algumas startups já estão produzindo esse ingrediente, mas, por enquanto, o foco principal está na nutrição animal, como ração para pets. Isso ocorre porque a regulamentação é um pouco mais simples nesse setor.

Para que a farinha de grilo chegue ao consumo humano em larga escala, a ANVISA precisa estabelecer normas claras. Sem esse regulamento, produtos como pães, massas e barras de proteína com farinha de grilo ainda têm um caminho longo pela frente, sendo esperados para após 2026 ou 2027.

Será mais barata que a farinha de trigo ou a proteína do soro do leite (whey)?

É importante deixar claro: a farinha de grilo não será um substituto barato para a farinha de trigo. Ela será posicionada no mercado de forma distinta, graças ao seu alto teor de proteína e nutrientes, tendo assim um valor agregado.

Seu concorrente principal deve ser o whey protein. Inicialmente, o preço será elevado, refletindo os altos custos de produção e sua condição de novidade. Com as informações atuais, podemos prever que 1kg de farinha de grilo destinada ao consumo humano pode custar algumas centenas de reais, sendo utilizada em pequenas quantidades para enriquecer outros alimentos.

O brasileiro está preparado para trocar a picanha por um bife de laboratório?

Esse, talvez, seja o maior desafio. Além de questões tecnológicas e os preços, há a barreira da aceitação cultural. Em um país conhecido pelo seu churrasco, a ideia de uma carne cultivada e de pães com insetos pode ser recebida com resistência, principalmente pelo chamado “fator nojo”.

O sucesso desses novos produtos vai depender muito do marketing. As empresas precisarão ser transparentes sobre todo o processo de produção, garantir um sabor e textura agradáveis e, principalmente, comunicar os benefícios de sustentabilidade e segurança alimentar. A carne cultivada, por não envolver o abate animal, pode atrair mais atenção do que a farinha de inseto.

Afinal, o que precisa acontecer para que esses produtos cheguem à nossa mesa?

A chegada da comida do futuro à mesa dos brasileiros envolve alguns passos importantes que precisam ser cumpridos ao mesmo tempo.

O percurso inclui:

  1. Aprovação Regulatória Final: A ANVISA e o Ministério da Agricultura (MAPA) precisam revisar e aprovar o primeiro produto específico de cada categoria para registro no Brasil.
  2. Escalabilidade da Produção: As empresas de tecnologia alimentar devem otimizar suas “biofábricas” para produzir em grande escala, fundamental para que o preço final se torne atraente.
  3. Aceitação do Consumidor: As marcas precisam investir em educação e marketing para quebrar as barreiras culturais e convencer as pessoas a experimentarem essas novas fontes de proteína.

Esse movimento em direção a novas formas de alimentação não vai acontecer de uma vez só, mas já estamos vendo os primeiros passos. A mesa dos brasileiros em 2030 pode, com certeza, ser bem diferente da de hoje.

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