Desperdício de alimentos impacta economia brasileira e pede solução
O desperdício de alimentos é um problema que afeta diretamente nossos bolsos e o desenvolvimento do país. Todo ano, cerca de 46 milhões de toneladas de alimentos são jogadas fora, o que representa cerca de 30% da produção nacional. Essa situação não só revela falhas na logística, mas também na cadeia produtiva.
Essa quantidade perdida gera um prejuízo que varia entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões por ano, segundo estimativas de especialistas. Isso pode impactar até 1,5% do PIB. Além do valor que se perde, o desperdício contribui para a inflação e desperdiça recursos como água, terra, energia e trabalho.
Conforme destaca um especialista, “os impactos dessas perdas são múltiplos: são perdas financeiras, custos desnecessários com transporte e armazenamento e até efeitos negativos no meio ambiente, como o aumento das emissões de gases do efeito estufa”.
A raiz do problema do desperdício
Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (IBEVAR), em parceria com a FIA, revelou que a maior parte das perdas, cerca de 50%, acontece durante o transporte e o manuseio dos produtos. O varejo é responsável por 30%, enquanto a produção conta com 10%. O consumidor final, muitas vezes visto como o vilão da história, representa apenas 10% das perdas.
O desperdício tem uma relação direta com a inflação. Um estudo aponta que mais de 70% do comportamento dos preços dos alimentos está ligado a essas perdas, afetando o custo final para o consumidor e desorganizando o mercado.
Economia circular como alternativa
Diante desse quadro complicado, surge um interesse crescente por modelos mais sustentáveis e eficientes. Um deles é a economia circular, que tem o objetivo de reinserir produtos que estão sobrando, possuem avarias ou estão próximos da data de validade de volta na cadeia de consumo. Essa prática reduz o desperdício e pode até impulsionar o PIB em até 1%, como aponta um estudo da FIA.
Segundo um professor de economia, essa abordagem não só combate o desperdício, mas também aumenta a produtividade, diminui custos logísticos e melhora a competitividade no varejo. Para os pequenos comerciantes e consumidores, isso representa acesso a produtos de qualidade por preços mais amigáveis.
Exemplo prático: tecnologia para combater o desperdício
Empresas de tecnologia estão investindo em soluções para ajudar a reduzir as perdas. Um exemplo é a Gooxxy, que se conecta com indústrias que têm estoques parados e pequenos e médios varejistas. A ideia é identificar problemas antes que eles aconteçam, mapear os excedentes e facilitar sua venda, garantindo controle sobre a marca e rastreabilidade.
O trabalho da Gooxxy tem se mostrado eficaz, tanto na redução de perdas quanto na melhora da margem e competitividade do pequeno comércio, que agora pode acessar produtos antes restritos a grandes redes. Presente no Brasil, Colômbia e México, a empresa mapeia estoques com avarias ou próximo da validade, conectando indústrias a uma base de compradores, como mercados e farmácias.
Infraestrutura ainda é obstáculo
Mesmo com os avanços, a infraestrutura logística no Brasil continua sendo um desafio. Menos de 35% da frota de transporte refrigerado atende a padrões internacionais. Além disso, a capacidade de armazenamento com controle de temperatura ainda cobre apenas 60% da demanda.
Muitos operadores não estão preparados para lidar com produtos que têm validade curta. Por isso, é fundamental profissionalizar a gestão de estoques e treinar as equipes. Neste cenário, parcerias entre empresas de redistribuição e operadoras logísticas globais estão em ascensão, ajudando a melhorar a entrega e ampliar o alcance dos produtos excedentes.
Incentivos e política pública
Existem especialistas que sugerem incentivos fiscais para empresas que redistribuem ou doam alimentos em boas condições. Além disso, créditos tributários para investimentos em infraestrutura de conservação poderiam ser uma solução viável.
A ideia é que, mesmo em tempos de restrição orçamentária, seja possível fomentar boas práticas com resultados visíveis. É possível criar incentivos com base em comprovações de redução do desperdício, levando a retornos econômicos e sociais significativos.