Minerais críticos podem ajudar na negociação de tarifas com os EUA
A poucos dias da aplicação da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, os Estados Unidos têm demonstrado um interesse renovado em fechar um acordo comercial com o Brasil. Essa proposta se concentra principalmente no acesso a minerais críticos e estratégicos, como nióbio, terras raras, lítio, grafite e níquel.
Gabriel Escobar, que representa a Embaixada dos EUA em Brasília, reforçou em uma reunião com representantes do setor de mineração que o Brasil pode ser um parceiro fundamental na garantia do fornecimento desses insumos. Esses minerais são vitais para várias indústrias, incluindo a de energia limpa, aeroespacial, armamentista e tecnológica.
Durante um evento da Expert XP 2025, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, destacou que seu estado abriga a maior concentração de minas de terras raras já identificadas no país. Com uma mina já em operação e outra em instalação, Caiado acredita que Goiás possui uma capacidade estratégica que pode fortalecer as negociações com os EUA.
Goiás assume protagonismo em terras raras
O governador ressaltou que a produção de uma única mina em Goiás já supera a demanda combinada da Europa e dos Estados Unidos. Ele também mencionou uma viagem ao Japão com o objetivo de firmar parcerias para que Goiás não apenas concentre, mas também se especialize na separação desses minerais.
“Uma vez que tivermos tecnologia avançada para separar os metais, poderemos fornecer esses insumos estrategicamente para o mundo”, destacou Caiado. Ele também enfatizou a importância de avançar na tecnologia para agregar valor aos minerais, ao invés de apenas extrair e concentrar.
A preocupação com os efeitos da tarifa também foi abordada. O governador anunciou iniciativas para mitigar esses impactos, como a reativação de fundos de crédito e o lançamento de um Fundo Creditório na B3. Esse novo fundo deverá liberar R$ 628 milhões em créditos de ICMS com juros bem atrativos, visando apoiar empresas exportadoras atingidas pela tarifa.
Brasil domina produção global de nióbio
O nióbio é um metal fundamental em diversas áreas, como siderurgia, construção civil e setor automotivo. No cenário atual, os Estados Unidos já dependem da importação desse minério e a concentração de mais de 90% da produção global no Brasil representa um risco estratégico.
Esse metal se destaca ainda mais por sua presença em tecnologias modernas, como baterias de veículos elétricos e armas hipersônicas. Quando se fala das disputas comerciais e geopolíticas, o nióbio ganha um papel ainda mais relevante.
EUA querem reduzir dependência da China
Além do nióbio, o Brasil ocupa a segunda maior reserva mundial de terras raras. Esses elementos químicos são cruciais na fabricação de turbinas eólicas, ímãs para motores elétricos e até dispositivos móveis. Atualmente, a maior parte dessa oferta mundial vem da China, o que levou os EUA a buscarem diversificar suas fontes de fornecimento.
Um documento chamado “Proposta de Cooperação Brasil-Estados Unidos em Minerais Críticos” sugere um plano de cinco frentes para essa cooperação. Entre as propostas estão:
- Plano de Ação Estratégico: Para melhorar a cooperação regulatória e a rastreabilidade dos minerais.
- Mapeamento Geológico: Para aumentar o conhecimento sobre as reservas no Brasil.
- Financiamento de Projetos: Apoio do BNDES e de bancos americanos para facilitar novos investimentos.
- Parcerias Tecnológicas: Para desenvolver capacidades locais de processamento e inovação.
- Sustentabilidade e Engajamento Local: Foco em boas práticas e apoio às comunidades próximas das minas.
Potencial mineral do Brasil para negociar tarifa
De acordo com o Ministério de Minas e Energia, o Brasil atualmente explora apenas 1% de suas reservas de terras raras. Com mais investimento e parcerias internacionais, o país pode se tornar um fornecedor estratégico global de minerais.
Nos últimos anos, o Brasil tem demonstrado um impressionante potencial em relação aos minerais críticos:
- Nióbio: Mais de 92% da produção global é do Brasil
- Grafite: O país possui a maior reserva mundial
- Terras raras: Segunda maior reserva
- Níquel: Terceira maior reserva
- Lítio: Demandando crescimento significativo
Lula recusa oferecer terras raras como moeda de troca para tarifa de 50%
Em meio a essas negociações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que “ninguém põe a mão nas riquezas naturais do Brasil”. Essa postura demonstra uma resistência em ceder o controle sobre os recursos minerais estratégicos do país.
Por outro lado, representantes do setor mineral veem a cooperação bilateral como uma possibilidade positiva, desde que mantenha a soberania brasileira e promova investimentos em tecnologia e processamento local. Contudo, especialistas alertam sobre os riscos de usar o nióbio como moeda de troca direta, o que poderia gerar reações adversas nos Estados Unidos.