Inflação impacta a classe média em contrariedade à tendência
Os relatórios sobre inflação costumam falar que o custo de vida pressiona mais as famílias de baixa renda. No entanto, a partir de maio, essa realidade mudou um pouco. Agora, as famílias de alta renda também estão sentindo o aperto no bolso.
Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um dado interessante: a inflação tem afetado mais fortemente as classes média e alta. E isso se intensificou a partir de maio. No mês de junho, enquanto as famílias com rendimentos mais baixos até conseguiram uma desaceleração, as famílias com renda alta viram os preços subirem.
Transportes e a inflação das classes altas
As famílias que têm uma renda mensal acima de R$ 22.020,22 sentiram a inflação subir de 0,08% em maio para 0,28% em junho. E isso é um pouco mais do que o índice geral do IPCA, que ficou em 0,24%.
Um dos principais responsáveis por essa alta foi o aumento no grupo de Transportes. Os preços do transporte por aplicativo subiram 13,7%, enquanto locações de veículos e seguros de carros variaram, com altas de 5,5% e 1,1%, respectivamente. Por outro lado, os combustíveis até caíram 0,42%, mas o preço dos serviços de alimentação fora de casa subiu 0,46%, atuando como um contrapeso. Além disso, serviços de saúde e planos de saúde também tiveram aumentos significativos.
Nos últimos 12 meses, a inflação entre os mais ricos chegou a 5,40%, a mais alta entre todos os grupos.
Preços sendo repassados para a classe média
O cenário inflacionário nas faixas mais altas também pode ser explicado pelo comportamento das empresas. Desde maio, muitas delas têm aumentado os preços dos produtos e serviços direcionados à classe média e alta, sem perder espaço nas vendas. A intenção aqui é recuperar as margens de lucro.
Varejistas de moda, bebidas, além de serviços como seguros de carro e transporte por aplicativo estão entre os setores que aumentaram os preços. Esse movimento se opõe ao que aconteceu entre outubro de 2024 e março de 2025, quando a inflação foi mais sentida pela população de baixa renda. Alguns serviços até tiveram altas de dois dígitos.
Alimentos ajudam a aliviar a inflação para os mais pobres
As famílias de renda muito baixa, que ganham menos de R$ 2.202,02 por mês, sentiram uma inflação de 0,20% em junho, uma leve queda em relação a 0,38% em maio. O que salvou o dia foram os preços dos alimentos, que caíram. Cereais, hortaliças, frutas e carnes viram suas tarifas diminuírem, trazendo um alívio para o bolso.
Embora a energia elétrica tenha subido 3% e os serviços de água e esgoto 0,59%, o impacto dos alimentos nos orçamentos das famílias mais humildes foi decisivo para essa leve queda no índice. Produtos de higiene também registraram retração, ajudando ainda mais nessa situação.
No acumulado do ano, a inflação para essas famílias ficou em 3,2%, impulsionada pela alta dos alimentos e da energia elétrica, que subiu 7%. Quando olhamos para os últimos 12 meses, a inflação ficou em 5,24%.
O que mudou em relação ao ano passado
Se compararmos junho deste ano com o mesmo mês do ano passado, notamos que as três primeiras faixas de renda tiveram uma queda na inflação, enquanto as três últimas apresentaram aumento. Para os que ganham menos, a inflação caiu de 0,29% para 0,20%. Já as famílias de alta renda passaram de 0,04% para 0,28%.
Essas mudanças estão muito ligadas ao aumento nos preços das passagens aéreas e dos transportes por aplicativo, que subiram consideravelmente neste ano em relação ao anterior.
A inflação das commodities e novas pressões
Os analistas estão de olho em sinais que podem indicar mudanças financeiras. A recente valorização do dólar, que subiu 2,2% após os novos tarifamentos dos EUA, pode impactar o custo de commodities no Brasil. Essa proposta de aumento de tarifas sobre exportações nacionais começará a valer em agosto e pode elevar os preços de produtos importados e insumos básicos.
Além disso, o clima pode prejudicar as safras, enquanto a demanda global por produtos também tem subido, afetando o custo de itens essenciais.
O que esperar para a inflação de julho
De acordo com as projeções do Banco Daycoval, o IPCA para julho deve aumentar 0,29%. O que deve pressionar esses preços são as passagens aéreas e a energia elétrica. Por outro lado, é esperado que os alimentos apresentem uma leve queda, e os preços industriais têm que aumentar um pouco.
As previsões de inflação para 2025 e 2026 estão em 5,1% e 4%, respectivamente. No curto prazo, a projeção é que o IPCA em julho suba 0,30%, caia 0,09% em agosto e aumente novamente 0,50% em setembro.