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Inflação brasileira sobe 0,24% em junho e ultrapassa meta

A inflação no Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou uma alta de 0,24% em junho. Isso é um leve recuo comparado a maio, que ficou em 0,26%. Os números foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e mostram que, no acumulado dos últimos 12 meses, a inflação atingiu 5,35%, ultrapassando a meta de 4,5% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Esse resultado é o mais alto para um mês de junho desde 2022, que teve uma taxa de 0,67%. No total, a inflação oficial em 2023 já soma 2,99%. Um dos principais fatores para essa alta foi o aumento de 2,96% na energia elétrica residencial, impulsionado pela aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 1, que torna o consumo mais caro.

Nova meta contínua exige reação do Banco Central

Esse é o primeiro descumprimento formal da nova meta de inflação, que começou a valer este ano. Agora, o Banco Central (BC) tem como missão manter a taxa em 3%, com uma variação aceitável entre 1,5% e 4,5%.

Se a inflação ficar fora dessa faixa por seis meses seguidos, o BC terá que escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda. Nela, explicará as razões do descumprimento, as medidas a serem tomadas e o tempo esperado para retomar o controle da inflação. Além disso, os detalhes também aparecerão no Relatório de Política Monetária, que substituiu o antigo Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

Energia elétrica promove alta do IPCA

O grande responsável pelo aumento do IPCA em junho foi a energia elétrica residencial, que subiu 2,96% e contribuiu com 0,12 pontos percentuais para o índice. Essa alta foi fortemente influenciada pela bandeira tarifária vermelha patamar 1, que encarece a conta de luz.

Em várias capitais, as tarifas de energia tiveram reajustes significativos:

  • Belo Horizonte: +8,57% desde 28 de maio
  • Porto Alegre: +4,41% desde 19 de junho
  • Curitiba: +3,28% desde 24 de junho
  • Rio de Janeiro: -1,29% desde 17 de junho

De acordo com Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE, a energia elétrica já acumula um aumento de 6,93% em 2023, o maior para um primeiro semestre desde 2018.

Ele explica que no início do ano houve uma queda devido ao bônus de Itaipu, mas essa tendência mudou com a introdução das bandeiras tarifárias amarela e vermelha.

Alimentos têm queda após nove meses de alta

O grupo de Alimentação e Bebidas viu uma redução de 0,18% em junho, marcando a primeira deflação desde setembro de 2022. Essa queda impactou o índice geral com uma contribuição negativa de -0,04 p.p. A alimentação dentro de casa caiu 0,43%, puxada por preços menores para itens como ovos (-6,58%), arroz (-3,23%) e frutas (-2,22%). Por outro lado, o preço do tomate subiu 3,25%.

A alimentação fora de casa também desacelerou para 0,46%. Enquanto o lanche teve um leve aumento, a refeição apresentou uma redução.

Fernando destaca que, se os alimentos fossem excluídos da conta do IPCA, a inflação do mês ficaria em 0,36%, e se a energia elétrica fosse retirada, o índice cairia para 0,13%.

Difusão da inflação diminui, mas núcleos mantêm pressão

O Índice de Difusão, que mostra a proporção de itens com alta nos preços, caiu de 59,7% em maio para 53,6% em junho. No caso dos alimentos, essa redução foi de 60% para 46%. Os itens não alimentícios mantiveram-se em 60%.

A média de cinco núcleos de inflação, monitorada pelo Banco Central e que exclui itens mais voláteis, teve uma leve desaceleração, passando de 0,30% em maio para 0,29% em junho. No acumulado de 12 meses, esse índice subiu de 5,17% para 5,23%.

Índice Nacional de Preços ao Consumidor sobe 0,23% em junho

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que considera famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, teve um aumento de 0,23% em junho. No acumulado anual, a inflação ficou em 5,18%, uma leve queda em relação a 5,20% observados anteriormente.

Os alimentos registraram uma queda de 0,19%, após um aumento de 0,26% em maio, enquanto produtos não alimentícios subiram 0,37%.

A variação regional também mostra diferenças. Belo Horizonte destacou-se com a maior alta (+0,55%), impulsionada pela energia elétrica (8,54%) e gasolina (1,56%). Por sua vez, Porto Alegre teve a menor variação (-0,10%), devido à queda no preço da gasolina (-2,56%) e produtos de higiene pessoal (-1,79%).

Expectativas para a política monetária após o IPCA de junho

O banco Daycoval acredita que a desaceleração do IPCA em junho não muda o cenário inflacionário, que ainda permanece desafiador. A projeção é de que a inflação termine o ano em 5,1% e que o Banco Central mantenha a taxa Selic em 15% até o fim do ano.

O economista Maykon Douglas vê uma luz no fim do túnel com os dados mistos do IPCA, especialmente com a leve variação acima do esperado. Ele observa também que o núcleo de serviços atingiu 7,0%, sinalizando um comportamento melhor nas médias.

Apesar das boas notícias, Maykon alerta que as tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros precisam ser analisadas, o que pode afetar a política monetária. Ele acredita que os juros devem se manter altos, pelo menos até o primeiro trimestre de 2026.

João Kepler, CEO da Equity Group, ressalta que, apesar da alta do IPCA em junho, a inflação ainda continua robusta, exigindo que empresários ajustem suas abordagens rapidamente. Ele defende que, em vez de esperar uma melhora do cenário, é hora de inovar e buscar eficiência.

Impactos do IPCA de junho nos negócios

O CEO da SME The New Economy, Theo Braga, reforça que a pressão sobre os custos das empresas continua intensa, especialmente para aquelas em fase de crescimento. Ele sugere que pequenos e médios negócios, que enfrentam desafios estruturais no Brasil, devem focar na gestão e eficiência. Esse é um bom momento para investir no conhecimento em finanças, liderança e execução.

Volnei Eyng, da gestora Multiplike, aponta que o aumento nas despesas com energia elétrica e serviços como água, esgoto e transporte afeta diretamente a margem de lucro das empresas. Isso é especialmente crítico para setores como a indústria, o agronegócio e redes varejistas, onde o consumo de energia é elevado e a logística é fundamental.

Ele enfatiza que, diante do aumento de custos e da inflação persistente, é preciso ter uma abordagem mais estratégica em relação ao crédito, ajudando as empresas a manterem sua saúde financeira.

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