Fitch aponta que juros altos desafiam empresas mais que tarifas dos EUA
A taxa Selic alta continua sendo uma preocupação para a economia brasileira, especialmente para as empresas. De acordo com a Fitch Ratings, essa taxa, que atualmente está em 15%, afeta a geração de caixa das corporações brasileiras. O aumento, que ocorreu esse ano, foi de 4,5 pontos percentuais. A expectativa é de que comece um ciclo de cortes apenas em 2026, com a Selic fechando o próximo ano em 12%.
Em uma conversa com o Valor Econômico, Fernanda Rezende, da Fitch, destacou que os juros elevados pressionam o fluxo de caixa das empresas, mas a liquidez continua firme. No entanto, a proximidade das eleições de 2026 pode trazer uma onda de instabilidade, levando as empresas a refinanciar suas dívidas antes do esperado. Para se ter uma ideia, cerca de 23% das dívidas das empresas analisadas vencem entre 2025 e 2026, somando quase US$ 3 bilhões em dívidas externas até o final de 2026.
Juros altos, liquidez e volatilidade eleitoral
Ainda falando sobre a situação do mercado, mesmo com os juros nas alturas, as empresas conseguem manter uma boa liquidez. Contudo, a Fitch alerta que as eleições de 2026 podem causar incertezas, forçando as empresas a antecipar o pagamento das dívidas. Essa antecipação é uma estratégia que pode evitar surpresas desagradáveis.
Tarifa deve impactar empresas mais expostas aos EUA
A Fitch também fez um estudo sobre empresas com vínculos no mercado americano. Entre 14 companhias analisadas, a exposição ao mercado dos EUA varia de 3% a 50%. As que têm menos exposição, entre 3% e 10%, incluem nomes como Petrobras e Vale. Já a Embraer se destaca com a maior exposição, entre 31% e 50%.
O impacto de possíveis tarifas depende da estrutura de dívida de cada empresa. Por exemplo, a Suzano, que tem a maior parte de sua dívida em dólar, está menos sujeita a oscilações da Selic. Por outro lado, empresas com mais dívida em reais, como a Eldorado, podem sentir mais os efeitos do custo do crédito.
Empresas ajustam dividendos para compensar caixa
A Fitch também observou que as empresas estão sendo mais cautelosas quanto aos seus investimentos. Muitas têm optado por reduzir ou adiar o pagamento de dividendos, buscando manter um caixa mais saudável. A média de alavancagem das companhias analisadas se mantém estável, com uma relação de 2,5 vezes entre dívida líquida e Ebitda, uma leve diminuição em comparação a 2024.
Por outro lado, a queda nos preços de commodities, como celulose e petróleo, está pressionando a geração de caixa. Isso pode atrasar o processo de redução da dívida se o cenário de preços baixos persistir.
Além dos juros, dívida é entrave para grau de investimento
Todd Martinez, também da Fitch, apontou que o Brasil pode ser o país mais endividado entre os emergentes nos próximos anos. A expectativa é que a dívida pública chegue a 79,3% do PIB em 2025, com um crescimento adicional de 3 pontos percentuais ao ano.
A falta de entendimento entre o Executivo e o Congresso em relação a medidas fiscais dificulta a recuperação do grau de investimento, algo que não acontece há mais de dez anos. Segundo a Fitch, a oportunidade para lidar com essa questão deve surgir após as eleições de 2026.