Bolsa Família e a ascensão socioeconômica de jovens
Um estudo recente do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS) jogou luz sobre os impactos do Bolsa Família na vida de jovens brasileiros. A pesquisa acompanhou 15,5 milhões de jovens de 7 a 16 anos que eram dependentes do programa entre 2012 e 2024, revelando tendências significativas sobre mobilidade social e desigualdade.
O Bolsa Família, criado em 2003, é uma iniciativa que ajuda famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Este levantamento revelou que, dos 15,5 milhões de jovens analisados, 10,3 milhões (ou 66,5%) conseguiram deixar o programa após 12 anos. Isso sugere uma melhora socioeconômica. Porém, 5,2 milhões (33,5%) ainda dependiam do auxílio em 2024, mostrando que o ciclo da pobreza persiste para uma parte considerável da população.
Crescimento e desafios do Bolsa Família
O Bolsa Família é fundamental para a sobrevivência das famílias vulneráveis, mas não consegue agir sozinho. O presidente do IMDS, Paulo Tafner, observou que “a transferência de renda é crucial, mas é preciso mais para promover uma mobilidade social ampla e duradoura.”
Transferência de renda x políticas complementares
O estudo destacou que a transferência de renda deve ser integrada a outras políticas públicas, especialmente nas áreas de educação, saúde e geração de emprego. Sem essa integração, o programa pode aliviar a situação imediata, mas não rompe de forma eficaz o ciclo da vulnerabilidade social.
O papel da educação e do ambiente macroeconômico
Fatores como a educação dos pais, a escolaridade dos jovens e a infraestrutura local impactam diretamente a mobilidade social. Municípios com acesso a uma educação de qualidade e serviços básicos adequados tendem a registrar um número maior de desligamentos do programa, o que indica que os jovens estão conseguindo uma ascensão socioeconômica mais robusta.
Educação de qualidade e mobilidade social
A análise mostrou que a escolaridade dos responsáveis influencia as chances de saída do CadÚnico e do Bolsa Família. Famílias com adultos mais escolarizados e que recebiam um pouco mais em 2012 tinham mais probabilidade de ascender socialmente. Por outro lado, jovens com baixa escolaridade enfrentam um risco maior de permanência no programa.
Diferenças de gênero e raça
A pesquisa também evidenciou disparidades em relação a gênero e raça. Homens tiveram mais chances de sair do CadÚnico em comparação às mulheres. Quanto à raça, jovens pretos e pardos mostraram maior propensão a continuar no sistema de proteção social, o que revela as desigualdades históricas no acesso à mobilidade socioeconômica.
Diferenças regionais na saída do Bolsa Família
Os padrões de saída do Bolsa Família variam entre as regiões do Brasil.
Sul, Sudeste e Centro-Oeste
Nessas regiões, as taxas de desligamento foram mais altas. Municípios com melhor infraestrutura educacional e acesso a emprego facilitaram o progresso social. Contudo, ainda existem focos de vulnerabilidade, especialmente em áreas rurais e nas periferias urbanas.
Nordeste e Amazônia Legal
O Nordeste, que concentrou a maior parte dos beneficiários em 2012, manteve uma alta proporção de jovens vinculados ao CadÚnico até 2024. Na Amazônia Legal, a permanência no programa também foi significativa, refletindo desigualdades históricas e desafios estruturais em infraestrutura e serviços.
Centro-Oeste
Nesta região, a situação é intermediária. Existem áreas com boas taxas de desligamento, especialmente em locais economicamente dinâmicos, mas também áreas com altos níveis de vulnerabilidade persistente.
Jovens que se desligaram completamente da rede de proteção
Dos 15,5 milhões de jovens acompanhados, 7,6 milhões não apenas deixaram o Bolsa Família, mas também o CadÚnico, mostrando que conseguem uma ascensão socioeconômica mais significativa. Esse grupo destaca o potencial de integrar políticas públicas, educação e desenvolvimento econômico local para promover uma mobilidade social sustentável.
Perfil das famílias que se desligaram
As famílias que conseguiram sair do CadÚnico geralmente apresentavam:
- Níveis de escolaridade mais altos entre os responsáveis.
- Renda familiar ligeiramente superior à média do programa.
- Acesso a infraestrutura municipal de qualidade, incluindo saneamento e educação.
Impacto da escolaridade dos jovens
A educação dos jovens também foi crucial. Aqueles com mais anos de estudo tinham mais chances de se desligar do programa, o que reforça a necessidade de investimentos contínuos em educação básica e técnica como ferramenta para emancipação social.
O ciclo da pobreza e políticas públicas
O estudo mostra que, apesar dos avanços, a pobreza ainda está estruturada no país. O Bolsa Família, embora fundamental, não consegue sozinho romper com este ciclo. É preciso uma combinação de:
- Transferência de renda consistente.
- Acesso a educação de qualidade e profissionalizante.
- Geração de empregos.
- Melhoria da infraestrutura e serviços públicos.
O levantamento sublinha que o Bolsa Família é essencial para aliviar a pobreza imediata, mas a mobilidade social a longo prazo depende de políticas complementares e condições econômicas favoráveis. É uma realidade que aponta para a necessidade de integração entre educação, emprego e renda, vital para que os jovens possam construir uma trajetória de emancipação e reduzir desigualdades.




