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BPC negado por renda? Entenda os critérios e como recorrer

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um dos pilares da assistência social no Brasil, garantindo um amparo financeiro a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade. No entanto, a negativa do pedido pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é uma realidade para muitos solicitantes, sendo o critério de renda um dos principais motivos.

A análise realizada pelo INSS para a concessão do BPC segue regras estritas, e a renda familiar por pessoa é um fator eliminatório. Se o cálculo realizado pelo instituto ultrapassar o limite estabelecido em lei, o benefício é indeferido, mesmo que a condição de idade ou deficiência seja comprovada.

Receber uma negativa, contudo, não significa o fim do processo. A legislação prevê caminhos para que o cidadão possa contestar a decisão, seja por meio de um recurso administrativo no próprio INSS ou por via judicial. Em muitos casos, a negativa inicial pode ser revertida com a apresentação de novos documentos e argumentos.

Compreender como o INSS avalia a renda, os motivos que levam ao indeferimento e os passos para apresentar um recurso de forma correta é fundamental para lutar pelo benefício.

BPC negado por renda Entenda os critérios e como recorrer
O BPC é um benefício assistencial destinado a idosos com 65 anos ou mais e a pessoas com deficiência de baixa renda, mas a negativa por critérios de renda é comum – Crédito: Jeane de Oliveira / cadunicobrasil.com.br

O que é o Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS)

O Benefício de Prestação Continuada, previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), é um direito que assegura o pagamento de um salário mínimo mensal a dois públicos específicos. O primeiro é o de idosos com 65 anos de idade ou mais. O segundo é o de pessoas com deficiência de longo prazo, de qualquer idade, que apresentem impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial.

É fundamental entender que o BPC é um benefício assistencial, e não previdenciário. Isso significa que, para ter direito a ele, não é necessário ter contribuído para o INSS ao longo da vida. Seu objetivo é garantir uma renda mínima para aqueles que não possuem meios de prover o próprio sustento nem de tê-lo provido por sua família.

Por sua natureza assistencial, o BPC não gera direito ao 13º salário e não deixa pensão por morte aos dependentes. Além disso, o benefício é reavaliado periodicamente para verificar se o beneficiário ainda atende aos critérios de elegibilidade, podendo ser cessado caso a situação de vulnerabilidade mude.

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Como o critério de renda do BPC é avaliado pelo INSS em 2025

O principal critério para a concessão do BPC, além da idade ou da deficiência, é o de renda. A lei estabelece que a renda por pessoa do grupo familiar deve ser igual ou inferior a 1/4 do salário mínimo vigente. Esse é o parâmetro utilizado pelo INSS para definir a condição de vulnerabilidade econômica.

Para realizar essa avaliação, o INSS soma todos os rendimentos brutos dos membros da família que vivem sob o mesmo teto. O valor total é, então, dividido pelo número de integrantes da família. Se o resultado dessa conta, a chamada renda per capita, ultrapassar o limite de 1/4 do salário mínimo, o benefício é administrativamente negado.

A principal fonte de dados para esse cálculo é o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). As informações de renda declaradas pela família no momento do cadastramento no CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) são cruzadas com outras bases de dados governamentais para a verificação.

Entenda por que seu BPC pode ter sido negado por renda

A principal razão para a negativa do BPC por renda é a aplicação estrita e matemática do critério de 1/4 do salário mínimo por parte do INSS. O sistema do instituto realiza o cálculo e, se o valor final for mesmo que minimamente superior ao teto legal, o indeferimento é automático.

O problema dessa análise puramente numérica é que ela não leva em consideração os gastos extraordinários que a família possa ter, especialmente aqueles relacionados à condição de saúde do idoso ou da pessoa com deficiência. Despesas com medicamentos, tratamentos, fraldas e alimentação especial não são abatidas no cálculo administrativo do INSS.

Dessa forma, uma família pode ter uma renda per capita que, no papel, está um pouco acima do limite, mas que, na prática, é insuficiente para cobrir os altos custos de manutenção da saúde e do bem-estar do requerente. É essa discrepância entre a renda formal e a realidade de vulnerabilidade que gera muitas negativas consideradas injustas.

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Para recorrer da decisão, é fundamental apresentar documentos que comprovem os gastos da família com saúde, como receitas e notas fiscais de medicamentos – Crédito: Jeane de Oliveira / cadunicobrasil.com.br

Documentos essenciais para comprovar a renda familiar no BPC

Para contestar uma negativa por renda, a apresentação de documentos que comprovem a real situação financeira da família é o passo mais importante. Além dos documentos de renda de cada membro, como contracheques e carteiras de trabalho, é preciso reunir provas dos gastos.

Os documentos mais relevantes para fortalecer um recurso são os que comprovam despesas contínuas com saúde. Isso inclui receitas médicas, notas fiscais de medicamentos de uso contínuo, de fraldas geriátricas, de suplementos alimentares e de qualquer outro item essencial para o tratamento.

Além disso, relatórios de profissionais da saúde, como fisioterapeutas ou fonoaudiólogos, que atestem a necessidade de terapias contínuas, e os comprovantes de pagamento desses serviços, são provas valiosas. Comprovantes de despesas com transporte para tratamentos também podem ser incluídos para demonstrar o comprometimento da renda.

Passo a passo: como recorrer administrativamente do BPC negado por renda

Se o pedido do BPC for negado, o primeiro caminho para contestar a decisão é o recurso administrativo, protocolado no próprio INSS. O prazo para apresentar o recurso é de 30 dias, contados a partir da data em que o cidadão toma ciência da decisão de indeferimento.

O recurso pode ser feito de forma online, por meio do aplicativo ou site Meu INSS (meu.inss.gov.br). O solicitante deve acessar a plataforma, localizar o pedido negado e selecionar a opção para “Recorrer”. O sistema abrirá um campo para que sejam escritas as razões do recurso.

Nesse momento, é fundamental explicar de forma clara por que a decisão do INSS está equivocada, argumentando que a renda da família, apesar de formalmente acima do limite, é insuficiente devido aos altos gastos com saúde. Todos os documentos comprobatórios, como as notas fiscais e receitas, devem ser digitalizados e anexados ao processo.

Provas e argumentos para fortalecer seu recurso contra a negativa por renda

O principal argumento a ser utilizado em um recurso é o da “flexibilização do critério de renda”. Esse entendimento, já consolidado nos tribunais superiores, defende que o limite de 1/4 do salário mínimo não deve ser o único fator a ser analisado, mas sim a condição de vulnerabilidade real da família.

Para sustentar esse argumento, as provas documentais são essenciais. É preciso demonstrar, por meio dos comprovantes de despesas, que os gastos com a manutenção da saúde do requerente consomem uma parte significativa da renda familiar, empurrando a família para uma situação de pobreza de fato.

Um laudo ou relatório de um assistente social do CRAS, que descreva a situação de vulnerabilidade da família, também é uma prova de grande peso. Esse documento técnico pode corroborar os argumentos e as provas apresentadas pelo cidadão, fortalecendo a análise do recurso.

Ação judicial: quando e como buscar o BPC negado por via judicial

Se o recurso administrativo no INSS for negado, ou mesmo como uma primeira alternativa à via administrativa, o cidadão pode buscar o seu direito na Justiça. A ação judicial para a concessão do BPC é um caminho bastante eficaz, especialmente nos casos de negativa por renda.

Na via judicial, a análise do critério de renda é, por natureza, mais flexível e aprofundada do que no INSS. O juiz irá analisar o caso de forma individualizada e determinará a realização de uma perícia social, na qual um assistente social judicial visitará a residência da família para constatar a real condição de vida e de vulnerabilidade.

Para ingressar com uma ação judicial, é recomendável o auxílio de um advogado especializado em direito previdenciário ou da Defensoria Pública da União. O profissional irá preparar a petição inicial com todos os argumentos e provas, e poderá solicitar ao juiz, inclusive, uma liminar para que o benefício comece a ser pago antes do final do processo.

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Dicas para evitar a negativa do BPC por inconsistências na renda

A melhor forma de evitar uma negativa por renda é a prevenção, por meio da manutenção de um Cadastro Único (CadÚnico) impecável. Antes de solicitar o BPC, o Responsável Familiar deve se dirigir ao CRAS para realizar uma atualização completa dos dados de todos os membros da família.

É fundamental que todas as fontes de renda sejam declaradas corretamente, assim como a composição exata do grupo familiar. Omitir ou declarar informações incorretas pode ser interpretado como fraude e levar não apenas à negativa do benefício, mas também a outras sanções.

Durante a entrevista no CRAS, é importante relatar ao entrevistador social a realidade da família, incluindo os gastos elevados com saúde. Embora esses gastos não entrem no cálculo inicial do CadÚnico, o registro dessa informação no parecer do assistente social pode ser útil no futuro, caso seja necessário apresentar um recurso.

Wilson Spiler

Jornalista e design gráfico, pós-graduado em Marketing Digital. Atualmente sou editor de Home do Lance!, e redator nos sites Pronatec e CadÚnico. Já trabalhei nos mais diversos ramos da comunicação, com atuação em redações como Globo, GloboNews, Video Clipping, e SRZD, onde fui editor-chefe de Esportes e fotógrafo. Também exerci a função de analista de SEO em agências como Rankme e Search Lab, além de vários trabalhos freelancers para empresas como Dimona e Buscapé.

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