Incertezas fiscais e tensões externas afetam mercados no Brasil
A combinação de incertezas fiscais no Brasil e tensões no comércio internacional está deixando os investidores com um pé atrás. Nas próximas semanas, alguns fatores vão ser fundamentais, como a decisão sobre o IOF, o comportamento dos juros e os dados da economia americana.
Hoje, o Monitor do Mercado traz uma nova edição do quadro “Semana em 5 Minutos”, onde Gil Carneiro resume tudo o que rolou na semana de forma direta e sem enrolação.
“No Brasil, até o passado é incerto” — essa frase do ex-ministro Pedro Malan resume bem o momento delicado que o país enfrenta.
Brasil: impasse no IOF, PIB em queda e tensão entre os Poderes
A tentativa de ação conjunta entre o Planalto e o Congresso em relação ao IOF não chegou a um consenso. A decisão do ministro Alexandre de Moraes, que permitiu a cobrança retroativa do imposto, gerou um clima de insegurança jurídica e intensificou as rusgas entre os Poderes.
Além disso, uma proposta de emenda à Constituição sugere a exclusão dos precatórios do teto de gastos, prevendo uma transição de dez anos. Essa medida busca aliviar a pressão fiscal, mas muitos a consideram apenas uma solução temporária.
Em um cenário político tumultuado, o presidente Lula decidiu vetar o aumento no número de deputados federais e a expansão automática de parlamentares estaduais. Essa decisão foi motivada por uma nova interpretação do STF sobre a Constituição de 1988.
Mesmo com essas polêmicas, a popularidade de Lula está em ascensão, especialmente por conta de seu embate político com Donald Trump. Contudo, as reformas estruturais ainda parecem fora de pauta até 2027, o que deixa uma pressão sobre a política fiscal.
E no quesito econômico, os dados mostram que o IBC-Br, que serve como uma prévia do PIB, caiu 0,7% em maio, superando as expectativas do mercado. Isso sinaliza uma desaceleração na atividade econômica, que pode levar a cortes na taxa de juros, caso os gastos fiscais também sejam ajustados.
Outro dado importante é que o IGP-10 de julho registrou uma deflação de 1,7%, marcando a quarta queda seguida. Essa deflação é influenciada pelo fortalecimento do real, que tem contribuído para essa situação.
No mercado de ações, o Ibovespa, nosso principal índice, registrou mais uma queda na semana, a segunda consecutiva. Esse movimento reflete a cautela dos investidores diante do cenário político e fiscal, mesmo com ativos que já estão valorizados.
EUA: inflação sobe, mas Fed pode cortar juros
Nos Estados Unidos, a inflação medida pelo índice de preços ao consumidor subiu de 2,4% para 2,7% nos últimos 12 meses, com destaque para itens importados como móveis e roupas. Apesar desse aumento, o comércio está se mantendo firme, com vendas no varejo crescendo 0,6% em junho, superando a expectativa de 0,1%.
Mesmo com a economia mostrando sinais de força e o desemprego em níveis baixos, o mercado ainda aposta em cortes na taxa básica de juros até 2025.
A temporada de balanços começou bem, com bancos como JPMorgan, Citigroup e Wells Fargo apresentando resultados surpreendentes. No entanto, as projeções para o próximo semestre são mais conservadoras, por causa das incertezas em relação às tarifas e ao comércio global.
Os índices S&P 500 e Nasdaq estão em alta, atingindo máximas históricas. Isso se deve ao otimismo corporativo e a uma expressão conhecida como “TACO trade”, que sugere que Donald Trump pode acabar recuando em suas ameaças comerciais, incluindo novas tarifas programadas para 1º de agosto.
China: crescimento e exportações em alta
A economia da China apresentou um PIB crescendo 5,2% no segundo trimestre deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado. As exportações também subiram, com um aumento de 5,8% em junho, seguindo uma alta de 4,8% em maio.
Embora as trocas comerciais com os EUA tenham diminuído, a China está redirecionando suas vendas para países que possuem tarifas mais baixas, funcionando como rotas indiretas para o mercado americano.
Europa: menos dependência energética da Rússia
A União Europeia praticamente conseguiu se desvincular do petróleo e do gás russos, o que tem ajudado a estabilizar a economia do bloco.
Em contrapartida, a Rússia está intensificando seu comércio com a China e a Índia para financiar sua guerra contra a Ucrânia. Apesar das pressões diplomáticas, o conflito continua sem um fim à vista.
Bitcoin: alta recente em perspectiva logarítmica
A valorização recente do Bitcoin está chamando atenção. Quando analisada em uma escala linear, parece ter sido uma das maiores altas da história. Mas, ao se olhar com uma perspectiva logarítmica, que foca mais nas variações percentuais, o crescimento atual está em linha com ciclos anteriores.
Esse modo de análise evita distorções na comparação de diferentes períodos. Por exemplo, uma alta de US$ 10 para US$ 30 e uma alta de US$ 10 mil para US$ 30 mil são vistas de forma proporcional, já que ambas representam um ganho percentual semelhante.
Esses dados sugerem que, mesmo com o preço do Bitcoin subindo, seu comportamento segue uma tendência consistente, semelhante a movimentos que já ocorreram no passado.