Lula responde a tarifas dos EUA e ameaça retaliação
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Essa informação veio através de uma carta publicada na plataforma Truth Social, com um forte tom político no seu conteúdo.
O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, não ficou em silêncio e devolveu a carta ao embaixador dos EUA. Para eles, o texto continha “erros factuais” e “afirmações inverídicas” sobre as relações entre os dois países. A troca de mensagens não foi amigável e, no cerne da questão, está a defesa da soberania do Brasil.
Em resposta à tarifa, o presidente Lula declarou que o Brasil poderia aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica. Essa lei, sancionada em abril de 2025, permite ao país suspender concessões comerciais e investimentos quando houver medidas unilaterais que prejudiquem a competitividade brasileira.
Nas redes sociais, Lula reforçou que a medida de Trump desconsidera dados sobre o comércio entre os países e que o déficit comercial alegado pelo presidente norte-americano não é verídico.
Estados Unidos anunciam tarifa e atacam STF
Além da tarifa, a carta fez críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e trouxe apoio a Jair Bolsonaro, chamando os processos contra ele de "caça às bruxas". Trump também acusou o STF de ter realizado ordens "secretas e ilegais" para censurar redes sociais americanas aqui no Brasil.
Governo brasileiro devolve carta e contesta acusações
Logo no fim da noite, a resposta do governo brasileiro foi clara: a carta foi devolvida novamente. O Itamaraty se manifestou mais uma vez, destacando que as alegações dos EUA eram ofensivas e baseadas em informações falsas sobre a relação entre os dois países.
A nota oficial do governo brasileiro denunciou uma “ameaça e ingerência” por parte dos EUA em questões judiciais aqui no Brasil, relacionadas ao golpe de 8 de janeiro do qual Bolsonaro é réu. A mensagem foi direta: qualquer aumento nas tarifas será acompanhado por ações em conformidade com a Lei de Reciprocidade.
Exportadores veem riscos: petróleo, aço e café na mira
A decisão de Trump tem grandes implicações para a economia brasileira, especialmente em três das nossas principais exportações:
Petróleo bruto: no ano passado, o Brasil exportou mais de 102 milhões de barris, com destino principal às refinarias na Costa do Golfo.
Ferro/aço semimanufaturado: gerou US$ 3,5 bilhões em exportações, apesar de uma queda em relação a anos anteriores.
- Café verde: as exportações totalizaram US$ 1,9 bilhão; o Brasil é responsável por 35% do mercado americano de café verde.
Com a nova tarifa, os exportadores brasileiros podem enfrentar dificuldades. Para manter a competitividade, muitos poderão ter que reduzir preços, o que pode afetar suas margens de lucro e gerar excesso de produtos no mercado interno.
Reações políticas e econômicas
A nova tarifa causou polêmica entre os apoiadores de Bolsonaro, que a veem como uma retaliação ao governo Lula e ao STF. Por outro lado, setores econômicos estão preocupados. A CNI (Confederação Nacional da Indústria) considerou a medida grave e pediu um diálogo imediato. Na nota, a entidade destacou que em 2024, cada R$ 1 bilhão exportado para os EUA resulta em 24,3 mil empregos e R$ 531,8 milhões em salários.
A Frente Parlamentar da Agropecuária também pediu cautela, destacando os riscos para o câmbio e a competitividade das exportações agrícolas. A Câmara de Comércio Brasil-EUA expressou sua preocupação, alertando que a tarifa pode impactar negativamente empregos e investimentos.
As críticas se estenderam à afirmação de Trump sobre o déficit comercial, pois dados oficiais mostram que os EUA têm superávit comercial com o Brasil há mais de 15 anos.
Trump ameaça novas sanções se houver retaliação
Na carta, Trump não deixou de ameaçar novas sanções se o Brasil decidir retaliar. Ele disse que qualquer aumento nas tarifas brasileiras seria somado aos valores que já aplicam. Analistas acreditam que essa medida é parte de uma estratégia protecionista e possivelmente eleitoral de Trump, especialmente diante da crescente pressão por diálogo comercial da indústria brasileira.
Impactos no mercado e na política monetária
As reações ao anúncio de Trump foram imediatas no mercado financeiro. O ADR da Embraer passou a cair quase 8% nas negociações após o fechamento da bolsa de Nova York. Essa expectativa de sanções elevou a aversão ao risco, impactando o dólar e os juros futuros.
Na economia local, mesmo com projeções de desaceleração para o IPCA de junho, essa nova tensão com os EUA abala as expectativas sobre a Selic, que atualmente está em 14,75%.