Notícias

O custo oculto dos rótulos: você paga mais por modismos?

As prateleiras dos mercados estão cada vez mais lotadas de produtos com rótulos como “sem glúten” e “sem lactose”. O que antes era uma niche para quem tinha necessidades específicas de saúde acabou se transformando em uma tendência de consumo, com a ideia de que esses itens são sempre mais saudáveis. Mas a verdade é que essa escolha pode sair bem mais cara.

Este guia tem um objetivo claro: primeiro, mostrar o quanto esses produtos realmente custam; segundo, trazer a opinião de especialistas, como nutricionistas e médicos, sobre quem realmente precisa fazer essas trocas. E não podemos esquecer de destacar que nenhuma mudança na dieta deve ser feita sem o acompanhamento de um profissional de saúde.

Qual é o custo real da cesta de compras ‘sem glúten e sem lactose’?

Quando a gente coloca na balança os preços dos produtos convencionais e suas versões “livres de”, o resultado é surpreendente. Ao optar por esses itens, o consumidor geralmente paga um preço bem alto por conta da tecnologia de produção, dos ingredientes alternativos e da certificação de que não há contaminação cruzada.

Dando uma olhada nos preços médios de julho de 2025, temos:

  • Pão: Um pacote de pão de forma sem glúten custa em média R$ 25,00, enquanto um pão tradicional de qualidade similar sai por cerca de R$ 10,00. Ou seja, você pode estar pagando até 150% a mais!
  • Macarrão: Um pacote de macarrão sem glúten (à base de arroz, milho ou grão-de-bico) chega a custar R$ 18,00, enquanto um bom macarrão de sêmola de trigo não passa de R$ 7,00.
  • Leite: Um litro de leite longa vida sem lactose custa, em média, 40% a mais que a versão tradicional. No fim do mês, essa diferença pode encarecer sua compra em mais de R$ 200,00, sem que você veja benefícios se não tiver um problema de saúde.

‘Sem glúten’: quem realmente precisa eliminar o trigo da dieta?

Em relação ao glúten, a ciência já deixou claro: a retirada total só é necessária para um grupo específico de pessoas. Cortar o glúten sem um diagnóstico médico não é recomendado.

As condições que exigem uma dieta sem glúten são:

  • Doença Celíaca: Uma condição autoimune onde o glúten machuca o intestino delgado. A única solução é evitar o glúten para sempre.
  • Sensibilidade ao Glúten Não Celíaca (SGNC): Pessoas que sentem desconfortos ao consumir glúten, mas não têm os marcadores da doença celíaca. Nesse caso, a retirada do glúten ajuda a melhorar os sintomas.
  • Alergia ao Trigo: Reações alérgicas imediatas ao consumir trigo, mediadas por anticorpos IgE.

‘Sem lactose’: qual a diferença entre intolerância e alergia ao leite?

Esse é um assunto que dá pano para a manga e gera confusão. Os produtos “sem lactose” são feitos para um público específico e não funcionam para todos que têm problemas com leite.

  • Intolerância à Lactose: É a dificuldade do corpo em digerir a lactose, o açúcar do leite, devido à falta da enzima lactase. Esses produtos têm a enzima adicionada e permitem a digestão. Os sintomas incluem gases e inchaço.
  • Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV): Uma reação do sistema imunológico às proteínas do leite. Os sintomas podem variar de gastrointestinais a respiratórios, e podem ser graves. Quem tem APLV deve evitar qualquer produto que contenha leite, incluindo os sem lactose.

Para quem não tem diagnóstico, uma dieta restritiva é mais saudável?

Esse é um dos grandes mitos no mundo dos “alimentos saudáveis”. Para a maioria das pessoas saudáveis, não há nenhuma prova de que uma dieta sem glúten ou sem lactose seja mais nutritiva. Na verdade, ao restringir sem necessidade, você pode acabar prejudicando sua saúde.

Muitos produtos industrializados sem glúten, para melhorar textura e sabor, possuem mais gordura, açúcar e sódio do que suas versões comuns. Além disso, pães e grãos que contêm glúten são ótimas fontes de fibras, vitaminas e minerais. Retirando-os da dieta sem substituições adequadas, sua alimentação pode ficar desequilibrada.

Por que cortar glúten ou lactose por conta própria pode ser um erro?

Começar uma dieta restritiva sem orientação médica pode resultar em dois problemas principais. O primeiro é a nutrição inadequada, duvidosa a longo prazo. O segundo, que pode ser ainda mais sério, é o risco de falsos diagnósticos.

Se você suspeita que possa ter Doença Celíaca e decide cortar o glúten antes de realizar exames, isso pode resultar em um teste que apresenta “falsos negativos”. Isso acontece porque os sinais da doença aparecem quando o glúten é consumido. Sem um diagnóstico correto, podem surgir dúvidas sobre a necessidade de seguir rigorosamente a dieta.

Como navegar na gôndola dos ‘sem’ de forma consciente?

Comprar produtos “sem glúten” ou “sem lactose” deve ser uma decisão consciente, baseada em informações e necessidades específicas, e não em modismos.

Aqui vão algumas dicas:

  1. Sente algum desconforto? Se você tem sintomas digestivos ao consumir certos alimentos, o primeiro passo é procurar um médico, como um gastroenterologista.
  2. Recebeu um diagnóstico? Siga as orientações do seu médico. Nesse caso, esses produtos são parte do seu tratamento.
  3. Não tem diagnóstico? Invista seu dinheiro em alimentos “naturalmente sem”, como frutas, legumes e grãos saudáveis, em vez de produtos ultraprocessados que só trocam ingredientes.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo